Inteligência Artificial e Edição Gênica são o futuro da Soja 2035!

Compartilhe:

Pesquisadores dizem no CBSoja que avanços genéticos e algoritmos vão acelerar muito a produtividade da oleaginosa até 2035

O futuro da biotecnologia voltada à soja foi tema de um workshop internacional no encerramento do 10º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja, realizado em Campinas (SP), nesta semana, sob organização da Embrapa Soja, unidade localizada em Londrina (PR). Participaram cientistas da China, Canadá, Estados Unidos, Argentina e Brasil, com abordagens centradas no uso de edição gênica e inteligência artificial como caminhos para impulsionar a cultura nos próximos anos. O evento reuniu cerca de 2 mil participantes, contou com mais de 50 palestras, 321 trabalhos científicos e a presença de 50 empresas na Arena de Inovação. O chinês Zhixi Thian, do Yazhouwan National Laboratory, defendeu que a soja precisa de um salto científico para acompanhar o ritmo da agricultura moderna. “Se queremos que a soja acompanhe o ritmo da agricultura moderna, precisamos de uma transformação radical, baseada em ciência de ponta”, afirmou Thian.

Ele lembrou que os ganhos de produtividade da oleaginosa têm sido inferiores aos observados em culturas como milho e trigo. Para superar esse descompasso, a estratégia está na exploração genética da planta, sobretudo em características como o crescimento das raízes. Esse ponto é decisivo em regiões de baixa umidade, como no Canadá. François Belzile, da Universidade de Laval, destacou que a expansão da soja no país depende da substituição de áreas hoje ocupadas por trigo e canola. “Para isso, precisamos de plantas com raízes mais eficientes e adaptadas a essas condições climáticas”, afirmou.

Nos Estados Unidos, o geneticista Scott Allen Jackson, da Universidade da Geórgia, chamou atenção para os custos ainda elevados do sequenciamento genético, apesar das reduções nas últimas décadas. Ele vê na inteligência artificial uma ferramenta essencial para contornar essas limitações. “A IA vai permitir interpretar volumes gigantescos de informação genética. O potencial dessa combinação com as técnicas de edição é imenso”, Jackson.

Na Argentina, país pioneiro na adoção de transgênicos, os esforços se concentram na tolerância à seca, aumento de proteína, resistência a herbicidas e redução de oligossacarídeos. “Nunca tivemos tanta informação sobre genes e suas funções, nem tanta tecnologia para aplicá-la”, disse Sergio Feingold, do INTA (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária). As ferramentas de RNAi e edição gênica são utilizadas em conjunto com modelos baseados em IA.

No Brasil, os trabalhos miram produtividade, sanidade vegetal, tolerância à seca e melhorias na composição da soja destinada à nutrição animal. Liliane Henning, da Embrapa Soja, explicou que intervenções pontuais no genoma são mais simples de executar. “Um gene pode interferir em diferentes funções da planta, o que exige muito mais precisão na edição”, afirmou. Segundo ela, as técnicas de edição gênica representam uma alternativa mais barata e ágil em comparação aos transgênicos, mas esbarram em obstáculos legais. “A patente do CRISPR ainda é um tema complexo e os direitos de uso permanecem indefinidos”, alertou.

Também da China, Weicai Yang apresentou uma frente de pesquisa voltada à simbiose entre a soja e bactérias fixadoras de nitrogênio, com foco em aumentar a eficiência da fixação biológica. “Compreender os mecanismos dessa interação é fundamental para reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados e tornar o cultivo mais sustentável”, disse. O painel foi encerrado com uma pergunta direta: qual será o limite da produtividade da soja até 2035? Parte dos cientistas avalia que mudanças climáticas podem conter os avanços. Outros estimam que, com o uso integrado das novas tecnologias, é possível alcançar até 25% de ganho no período.

plugins premium WordPress